As Crianças Como Consumidoras na Era Global - Época Natalícia no Shopping

Este blog tem como objectivo complementar o trabalho desenvolvido no âmbito das disciplinas de ICS e Seminário de Iniciação à Mediação e Formação. Do seu conteúdo fazem parte fotografias, videos, sondagens, entre outros relacionados com o tema "As Crianças Como Consumidoras na Era Global - Época Natalícia no Shopping".

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Conclusão

Após a realização deste trabalho podemos concluir que:
•Os shoppings são cada vez mais frequentados, porque conseguem juntar num mesmo espaço uma diversidade de comércio, o que faz com que as pessoas rentabilizem tempo;
•O Natal, torna-se à medida que a sociedade vai evoluindo, cada vez mais uma época conotada pelo consumismo desenfreado;
•Os centros comerciais na época natalícia tornam-se verdadeiros centros de apelo ao consumo, dada a decoração das lojas, bem como do centro comercial em si;
•O consumo preenche as necessidades simbólicas, bem como as corporais das crianças, que querem comprar coisas que satisfaçam essas necessidades e lhe dêem satisfação.
•Toda a publicidade exibida nos meios de comunicação social, tem uma forte influência nas crianças;
•Com a globalização aumentou a importância dos presentes no Natal, resultando do papel activo da criança em “reivindicar o direito” de receber prendas.

Análise de Resultados

Da observação da decoração do Shopping, verificamos que os elementos natalícios mais evidentes eram:
•Luzes de Natal: iluminação presente em vários locais do centro comercial; criam a mágica natalícia; sinónimo de vida.
•Presépio: não é um presépio tradicional, uma vez que só constam as figuras de José e Maria.
•Boneco de Neve: Tem a ver com a estação do ano em que se festeja o Natal.
•Árvore de Natal: As folhas são o símbolo da imortalidade e têm um significado sagrado. Remonta ao tempo dos Romanos que decoravam os edifícios com ramos de pinheiros.
•Pai Natal: Remonta ao século XVII; origem holandesa.
Assim, podemos verificar que apesar de no centro comercial se observar os dois tipos de Natal, há uma maior predominância do Natal profano, visível através da sua decoração.
Já no que respeita à análise das perguntas fornecidas pelas crianças, podemos verificar duas coisas:
•Para as crianças mais pequenas, independentemente do género, o Natal tem apenas um significado profano, ou seja para estas o Natal são as prendas.
Exemplo: “O Natal é quando o Pai Natal dá prendas!”
•Para as crianças mais velhas, a partir dos sete anos, o Natal para além de ser expresso em prendas, traz também consigo valores morais associados à reunião da família, à paz e ao amor.
Exemplo: “No Natal a família reúne-se e o Pai Natal dá-nos presentes. Temos muita alegria, amizade, amor e paz!”.

Metodologia

Utilizamos dois métodos distintos: um método de observação e uma mini-entrevista. O processo de observação decorreu no centro comercial Dolce Vita, onde observamos a decoração do shopping, por forma a ver quais os elementos natalícios mais evidenciados, e observamos ainda um local específico, onde se encontrava a figura do Pai Natal, para observamos a interacção deste com as crianças.
Para além disso, abordamos as crianças que encontramos no respectivo shopping e colocamos-lhes uma questão: "O que é Para ti o Natal".

Fundamentação Teórica

Como já referido anteriormente, o nosso trabalho debruça-se sobre o Natal, mais especificamente o das crianças, e o consumismo a ele inerente.
Neste contexto, parece-nos fundamental fazer referência à história do Natal, à sociologia das crianças e a sua tendência consumista, bem como estabelecer o paralelismo entre o consumismo e a globalização. Existem várias teorias quanto à origem do Natal e por vezes contraditórias. Isto pode ter a ver com o facto do mesmo estar relacionado com uma origem profana, por um lado, e com uma origem religiosa, por outro.
Em termos profanos, o Natal remonta ao tempo dos romanos em que era festejado o solsticio do inverno numa festividade que ia desde o dia 17 ao dia 22. O dia 25 especificamente era dedicado ao Deus Persa Mitra. Em termos religiosos o Natal tem a ver com o nascimento de Cristo que outrora se festejava dia 6 de Janeiro, no entanto, a igreja cristã transformou uma festividade pagã numa cristã, transferindo a celebração do nascimento de Cristo para o dia 25 e dando-lhe assim, um novo significado.
O Natal é, portanto, um rito que preserva valores de solidariedade, fraternidade e alguns comportamentos como a oferta de presentes e o envio de postais. É também passível de ser reinventado e adequado à cultura vigente: “a invenção de uma tradição” (Perrot, 2000), e ainda um exemplo de mundialização e uma excelente época, que faz disparar a “veia consumista” das pessoas, principalmente das mais vulneráveis, as crianças.
Quando falamos em crianças falamos necessariamente em infância, mas este conceito é recente, uma vez que nem sempre a infância foi vista como tal:
•Na Idade Média, as crianças são representadas como adultos em miniatura (homunculus);
•Ao longo do século XVI as crianças de classes superiores da sociedade vão adquirindo especificidade em relação ao adulto;
•A ideia moderna da infância como fase autónoma relativamente à adultez, começa apenas nos finais do século XVIII (Ariés, 1981).
À medida que o poder de aquisição dos jovens cresce, comerciantes, fabricantes e anunciantes vieram a interessar-se cada vez mais por métodos eficazes de alcançar o mercado dos mais novos. O ponto inicial deste esforço recaía sobre os jovens, no entanto, ultimamente, a atenção foi igualmente dirigida para o mercado infantil. O consumo preenche as necessidades simbólicas, bem como as corporais das crianças, que querem comprar coisas que satisfaçam essas necessidades e lhe dêem satisfação. Assim, torna-se importante esclarecer o conceito de socialização do consumidor. Esta refere-se especificamente ao processo de aprendizagem de competências, conhecimentos e atitudes relacionadas com o consumo. Começa em idades muito precoces, sendo moldada por uma série de factores importantes, que incluem pais, colegas e os meios de comunicação social, sendo que as raparigas são o sexo mais vulnerável (Gunter e Furnham, 1998).
As crianças nesta era global, tendem cada vez mais a ter um papel importante e influenciador nas decisões de compra da família, logo que possuem as capacidades de comunicação básicas”. A compactação do espaço torna-se essencial na medida em que o tempo das pessoas é cada vez mais escasso.
Para além das vantagens supramencionadas, os centros comerciais também são locais atractivos para as crianças, particularmente os que oferecem espaços lúdicos e de diversão, tornando-se centros sociais da pseudocomunidade.
Os centros comerciais transformam-se em palcos onde as identidades, progressivamente construídas na prévia socialização pelos pais ou pelos meios de comunicação, são expressas e reconhecidas (Langman, 1992 cit in Gunter e Furnham 1998: 74).
Neste sentido, o shopping pode ser entendido como um meio “de propaganda” onde as festas oficiais, especialmente o Natal, ganham dimensões exacerbadas.
Hoje em dia, o Natal tornou-se, em simultâneo, um ritual comercial e industrial, onde o consumo é produto da busca da felicidade ilusória.
Com o crescimento e o desenvolvimento das sociedades ocidentais, aumentou proporcionalmente a importância dos presentes de Natal, resultando do papel activo da criança em “reivindicar” o “direito” de receber prendas e quantas mais melhor.
A indústria cultural da sociedade contemporânea disponibiliza um enorme mercado de produtos de consumo lúdico e, consequentemente, uma maior cultura lúdica da criança associada ao jogo simbólico. “No século XX o brinquedo passa a fazer parte dos bens de consumo corrente”(Pott, 2007).
No Natal as pessoas aglomeram-se no meio de uma multidão quase automaticamente direccionadas para o consumo nos tempos modernos desta festividade.
Assim, a globalização veio a influenciar drasticamente o imaginário infantil nas sociedades ocidentais.

Objectivos

Os nossos objectivos foram:
•Fazer um trabalho de observação no Dolce Vita da cidade do Porto, onde tentamos verificar quais os elementos ou símbolos natalícios, que fazendo parte da sua decoração, eram os mais frequentes.
•Tentar verificar quais as mensagens e/ou valores evidenciados, bem como qual o tipo de natal mais saliente: seria o profano com a figura do Pai Natal ou o religioso representado com o Menino Jesus no presépio?
•Tentar perceber qual o significado do Natal para as crianças, baseando-nos na pergunta: “O que é para ti o Natal?”
•Observar a interacção das crianças com o Pai Natal.

Introdução

O nosso trabalho intitula-se por “As crianças como consumidoras na era global – época natalícia no shopping” e surge no âmbito das disciplinas de Introdução às Ciências Sociais, Seminário de Iniciação à Formação e Mediação: Temas e Problemas da Educação Contemporânea e Laboratório Multimédia. O presente trabalho surge assim, no seguimento da nossa visita ao centro da cidade do Porto, que postulou problemáticas sobre Mobilidade e Ambiente e surge ainda a propósito da terceira temática de ICS: as Ciências Sociais como forma particular de conhecimento sobre a realidade.
Com base na problemática da Mobilidade, inicialmente tínhamos o objectivo de saber o porquê de as pessoas se moverem tanto para locais como os shoppings, e ainda perceber quem eram essas pessoas. Ao longo da investigação, modificamos o tema central, uma vez que quando fomos ao shopping deparamo-nos com um espaço onde as pessoas se moviam no contexto da época natalícia. Assim, pensamos que a problemática deveria ser reformulada, fazendo-se uma alusão ao Natal, no significado que este tem para as crianças e verificar esta era do consumismo, num ambiente tão propício a ele como é o caso dos centros comerciais.

terça-feira, 20 de novembro de 2007